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Em companhia de minhas
amigas, assisti a essas reuniões. O Sr. Miller apresentou as profecias com uma
precisão que convencia o coração. Detinha-se a tratar dos períodos proféticos,
e apresentava muitas provas para confirmar a sua opinião. Seus apelos e avisos
solenes e poderosos, feitos àqueles que não se achavam preparados, deixavam
assustada a multidão.
Reavivamento
Espiritual
Efetuaram-se reuniões
especiais em que os pecadores podiam ter oportunidade de buscar a seu Salvador
e preparar-se para os terríveis acontecimentos que breve ocorreriam. Terror e
convicção espalharam-se por toda a cidade. Realizavam-se reuniões de oração, e
havia um despertamento geral entre as várias denominações; pois mais ou menos
todos sentiam a influência do ensino da próxima vinda de Cristo.
Quando os pecadores
foram convidados a ir à frente, para o lugar daqueles que desejavam auxílio
cristão especial, centenas atenderam ao apelo. E eu me coloquei entre os que
buscavam aquele auxílio. Pensava, porém, que jamais me poderia tornar digna de
ser chamada filha de Deus.
Muitas vezes, procurava
a paz que há em Cristo, mas não me parecia encontrar o que desejava. Terrível
tristeza me oprimia o coração. Não podia lembrar-me de coisa alguma que
houvesse feito sem que me entristecesse. Parecia-me, porém, não ser
suficientemente boa para entrar no Céu, e desejar isso seria coisa demasiada
para mim.
A falta de confiança
própria e a convicção de que seria impossível fazer com que alguém compreendesse
meus sentimentos, impediam-me de buscar conselho e auxílio de minhas amigas
cristãs. Assim, vagueava desnecessariamente em trevas e desespero, enquanto
elas, sem conhecer o meu íntimo, ignoravam completamente o meu estado.
Justiça
Pela Fé
No verão seguinte, meus
pais foram às reuniões da assembleia metodista, em Buxton, Maine, levando-me
consigo. Eu estava plenamente resolvida a buscar fervorosamente ao Senhor ali,
e alcançar o possível perdão de meus pecados. Sentia de coração grande anelo
pela esperança cristã e pela paz que vem com a fé.
Muito me animei ouvindo
um sermão sobre as palavras "Irei ter com o rei... e, perecendo,
pereço." Est. 4:16. Em suas considerações, o orador referiu-se àqueles que
vagavam entre a esperança e o temor, anelando serem salvos de seus pecados e
receberem o amor remidor de Cristo, e, no entanto, pela timidez e receio de
fracasso, se conservavam em dúvida e escravidão. Aconselhava a tais que se
entregassem a Deus, e sem mais demora confiassem em Sua misericórdia.
Encontrariam um Salvador compassivo, pronto para lhes apresentar o cetro da
misericórdia, assim como Assuero indicou a Ester o sinal de seu favor. Tudo que
se exigia do pecador, trêmulo ante a presença de seu Senhor, era que estendesse
a mão da fé e tocasse o cetro de Sua graça. Aquele toque asseguraria perdão e
paz.
Aqueles que esperavam
tornar-se mais dignos do favor divino antes de se arriscarem a alcançar as
promessas de Deus, estavam cometendo um erro fatal. Somente Jesus purifica do
pecado; apenas Ele pode perdoar nossas transgressões. Ele assumiu o compromisso
de ouvir as petições e deferir as orações dos que pela fé a Ele recorrem.
Muitos têm uma ideia vaga de que devem fazer algum esforço extraordinário a fim
de alcançar o favor de Deus. Toda confiança própria, porém, é vã. É unicamente
ligando-se a Jesus pela fé, que o pecador se torna filho de Deus, cheio de
esperança e crença.
Essas palavras me
consolaram, e deram-me uma visão do que devia fazer para ser salva.
Passei então a ver mais
claramente meu caminho, e as trevas começaram a dissipar-se. Ardorosamente
busquei o perdão de meus pecados, e esforcei-me para entregar-me inteiramente
ao Senhor. Meu espírito, porém, debatia-se muitas vezes em grande angústia,
pois eu não experimentava o êxtase espiritual que considerava deveria ser a
prova de minha aceitação da parte de Deus, e não ousava crer que, sem isso,
estivesse convertida. Quanto necessitava eu de instrução no tocante à
simplicidade da fé!
Remoção
do Fardo
Enquanto permanecia
curvada junto ao altar da oração em companhia de outros que buscavam ao Senhor,
toda a linguagem do meu coração era: "Auxilia-me, Jesus; salva-me, eu
pereço! Não cessarei de rogar enquanto minha oração não for ouvida e perdoados
os meus pecados." Como nunca antes, sentia minha condição necessitada e
desamparada.
Enquanto me achava de
joelhos em oração, meu fardo deixou-me, e meu coração se aliviou. A princípio
me sobreveio um sentimento de susto e procurei retomar o meu fardo de angústias.
Julgava não ter o direito de sentir-me alegre e feliz. Mas Jesus parecia estar
perto de mim; sentia-me capaz de achegar-me a Ele com todos os meus pesares,
infelicidades e provações, assim como o faziam os necessitados em busca de
consolo, quando Ele esteve na Terra. Eu tinha no coração a certeza de que Ele
compreendia minhas provações e comigo simpatizava. Nunca poderei esquecer essa
segurança preciosa da compassiva ternura de Jesus para com alguém tão indigno
de Sua atenção. Naquele curto período de tempo em que fiquei prostrada entre os
que oravam, aprendi mais do que nunca acerca do caráter divino de Cristo.
Uma das mães em Israel
aproximou-se de mim e disse: "Querida filha, achaste a Jesus?" Eu
estava para responder "Sim", quando ela exclamou:
"Verdadeiramente O achaste; Sua paz está contigo, eu a vejo em teu
semblante!"
Repetidas vezes, disse
comigo mesma: "Pode isso ser religião? Não estarei enganada?"
Parecia-me demasiado pretender um privilégio excessivamente exaltado. Se bem
que tímida demais para confessá-lo abertamente, eu sentia que o Salvador me
abençoara e perdoara meus pecados.
"Em
Novidade de Vida"
Logo depois,
encerrou-se a assembleia, e partimos para casa. Eu tinha a mente repleta dos
sermões, exortações e orações que ouvíramos. Tudo na natureza parecia mudado.
Durante as reuniões, nuvens e chuva haviam prevalecido na maior parte do tempo,
e meus sentimentos estavam em harmonia com o tempo. Agora, o Sol resplandecia
brilhante e luminoso, e inundava a Terra de luz e calor. As árvores e a relva
eram de um verde mais vivo; o céu, de um azul mais profundo. A Terra parecia
sorrir com a paz de Deus. Igualmente, os raios do Sol da Justiça haviam
penetrado as nuvens e trevas do meu espírito, afugentando a tristeza.
Parecia-me que cada
qual deveria estar em paz com Deus, e animado de Seu Espírito. Todas as coisas
sobre as quais meu olhar repousava, parecia terem passado por uma mudança. As
árvores eram mais bonitas, e os pássaros cantavam com mais suavidade do que
nunca; pareciam estar louvando o Criador.
Minha vida aparecia-me
sob uma luz diferente. A aflição que me obscurecera a infância, eu diria ter
intervindo misericordiosamente em meu favor, para minha felicidade,
desviando-me o coração do mundo e de seus prazeres, que não satisfazem, e
inclinando-o para as atrações duradouras do Céu.
Logo depois de nossa
volta da assembleia, eu, juntamente com vários outros, fiz profissão de fé na
igreja. Preocupava-me bastante o assunto do batismo. Jovem como era, não podia
ver senão uma única maneira de batismo autorizada nas Escrituras, e essa era a
imersão. Algumas de minhas irmãs metodistas procuraram em vão convencer-me de
que a aspersão era batismo bíblico.
Finalmente, foi marcado
o tempo em que receberíamos essa solene ordenança. Foi num dia ventoso que nós,
em número de doze, fomos ao mar para sermos batizados. As ondas encapelavam-se
e batiam contra a praia; mas, em havendo eu tomado essa pesada cruz, minha paz
era semelhante a um rio. Quando saí da água, sentia-me quase sem forças, pois o
poder do Senhor repousava sobre mim. Senti que dali em diante não era deste
mundo, mas surgia daquele como que túmulo líquido, para uma novidade de vida.
No mesmo dia à tarde,
fui recebida na igreja com todas as prerrogativas de membro.
Fonte: Ellen G. White. Vida e Ensinos, p. 16-21
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