terça-feira, 13 de novembro de 2012

Esclarecimentos Sobre o Dízimo





Baseado na Bíblia, Espírito de Profecia e Manual da Igreja.

  1-A Igreja Adventista do Sétimo Dia está falhando em incentivar constantemente (através de sermões, folhetos e testemunhos) a fiel devolução dos dízimos?

R: Esse princípio precisa ser frequentemente apresentado aos homens relaxados em seu dever para com Deus, e que são negligentes e descuidados em levar-lhe seus dízimos, dádivas e ofertas.  Testemunhos para Ministros, p. 306.

2-      É o sistema de dízimos válido em nossos dias?

R: O sistema especial de dízimos baseia-se em um princípio tão duradouro como a lei de Deus. Esse sistema foi uma bênção ao povo judeu, do contrário o Senhor não lho haveria dado. Assim será igualmente uma bênção aos que o observarem até ao fim do tempo. Nosso Pai celeste não instituiu o plano da doação sistemática com o intuito de enriquecer-Se, mas para que o mesmo fosse uma grande bênção ao homem. Viu que o referido sistema era exatamente o que o homem necessitava. Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 385.

   3-      O que impede algumas pessoas de serem fiéis dizimistas?

R: Um espírito mesquinho e egoísta impede os homens de darem a Deus o que Lhe pertence. O Senhor fez um concerto especial com o homem, de que se eles separassem regularmente a parte destinada ao avanço do reino de Cristo, Ele os abençoaria abundantemente, de tal modo que não haveria mais lugar para receber-Lhe as dádivas. Mas se os homens retiverem o que pertence a Deus, o Senhor declara abertamente: "Com maldição sois amaldiçoados." Mal. 3:9. Conselhos Sobre Mordomia, p. 77.

Vi que alguns se têm escusado de ajudar à causa de Deus por terem dívidas. Tivessem eles examinado cuidadosamente seu próprio coração, e teriam descoberto que a verdadeira razão de não levarem a Deus oferta voluntária era o egoísmo. Alguns sempre continuarão devendo. Devido à sua cobiça, a mão prosperadora do Senhor não estará com eles, para lhes abençoar os empreendimentos. Amam mais a este mundo do que à verdade. Não estão sendo habilitados e preparados para o reino de Deus. Testimonies, vol. 1, pág. 225.

   4-      Como devem ser devolvidos os dízimos?

R: Essa questão de dar não é deixada ao impulso. Deus nos deu instrução a esse respeito. Especificou os dízimos e ofertas como sendo a medida de nossa obrigação. E Ele deseja que demos regular e sistematicamente. ... Examine cada qual suas rendas com regularidade, pois são todas uma bênção de Deus, e ponha de parte o dízimo como um fundo separado, para ser sagradamente do Senhor. Em caso algum deve ser esse fundo dedicado a qualquer outro uso; deve ser unicamente dedicado ao sustento do ministério do evangelho. Depois de ser o dízimo posto à parte, sejam as dádivas e ofertas proporcionais: "conforme a sua prosperidade". I Cor. 16:2. Review and Herald, 9 de maio de 1893.

   5-      Não dizimar é pecado?

R: Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda. Malaquias 3:8-9

Não Furtarás. Êxodo 20:15

Coisa séria é apropriar-se dos bens do Senhor, praticar furto para com Deus; pois, ao fazê-lo, as percepções se tornam pervertidas e o coração, endurecido. Quão árida é a experiência religiosa, quão nublado o entendimento daquele que não ama a Deus com amor puro e abnegado, e que, portanto, deixa de amar ao próximo como a si mesmo. Conselhos Sobre Mordomia, p. 86.

Defraudar o Senhor é o maior crime de que um homem pode ser culpado; e ainda assim é esse pecado profunda e amplamente difundido. Review and Herald, 13 de outubro de 1896.


   6-      Deve um não dizimista ocupar algum cargo na igreja?

R: É o dever dos anciãos e oficiais da igreja instruir o povo nessa importante questão, e pôr as coisas em ordem. Como coobreiros de Deus, devem os oficiais da igreja ser corretos nesse assunto claramente revelado. Devem os próprios pastores ser estritos quanto a executar ao pé da letra os preceitos da Palavra de Deus. Os que ocupam posição de responsabilidade na igreja não devem ser negligentes, devem antes fazer com que os membros sejam fiéis em cumprir esse dever. ... Sigam os anciãos e oficiais da igreja a orientação da Palavra Sagrada, e insistam com os membros sobre a necessidade de ser fiéis em pagar os votos, dízimos e ofertas. Review and Herald, 17 de dezembro de 1889.

Todos os oficiais devem ser exemplos na questão de devolver um dízimo fiel para a igreja. Alguém que falhe em ser tal exemplo não deve ser eleito para um cargo na igreja. Manual da Igreja, p. 74, Edição 2010.

Nota: Nós como cristãos devemos ser fiéis a Deus nos dízimos e ofertas. Devemos também incentivar os infiéis a mudarem de atitude e não defender a infidelidade. Como corpo de Cristo devemos agir fundamentados na Bíblia, Espírito de Profecia e Manual da Igreja. 
                                                                                                                Pr. Oberdan Rocha

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A Experiência de Ellen G. White no Desapontamento de 1844



Com vigilância e tremor aproximávamo-nos do tempo em que se esperava aparecesse o nosso Salvador. Com solene fervor, buscávamos, como um povo, purificar nossa vida a fim de estar prontos para O encontrar em Sua volta. Ainda se realizavam reuniões em casas particulares em diferentes partes da cidade, com os melhores resultados. Os crentes animavam-se a trabalhar por seus irmãos e parentes, e dia a dia multiplicavam-se as conversões.

Reuniões no Salão Beethoven

Apesar da oposição dos ministros e igrejas, o Salão Beethoven, na cidade de Portland, ficava repleto todas as noites. Especialmente aos domingos havia ali grande congregação. Todas as classes afluíam a essas reuniões. Ricos e pobres, grandes e humildes, ministros e leigos, estavam todos por vários motivos, ansiosos por ouvir a doutrina do segundo advento. Muitos vinham e, não encontrando lugar nem para ficarem de pé, voltavam desapontados.

A ordem seguida nas reuniões era simples. Fazia-se usualmente um breve e incisivo discurso, concedendo-se em seguida liberdade para exortações gerais. Havia, em regra, o maior silêncio possível a uma tão grande multidão. O Senhor continha o espírito de oposição enquanto Seus servos expunham as razões de sua fé. Algumas vezes o instrumento era fraco, mas o Espírito de Deus dava peso e poder à Sua verdade. Sentia-se a presença dos santos anjos na assembleia, e várias pessoas eram acrescentadas diariamente ao pequeno núcleo de crentes.

Uma ocasião, enquanto o Pastor Stockman estava pregando, o Pastor Brown, pastor batista cristão, estava assentado à plataforma, escutando o sermão com intenso interesse. Ficou profundamente comovido e subitamente seu rosto empalideceu como o de um morto; vacilou na cadeira, e o Pastor Stockman tomou-o nos braços precisamente quando ia caindo ao chão, e o deitou no sofá atrás do estrado, onde ficou sem forças até o sermão terminar.

Levantou-se então, com o rosto ainda pálido, mas resplendente com a luz do Sol da Justiça, e deu um testemunho muito impressionante. Parecia receber santa unção do alto. Ele tinha por costume falar vagarosamente, com uma maneira fervorosa, sem qualquer agitação. Nessa ocasião, suas palavras, solenes e comedidas, traziam consigo um novo poder.

Relatou sua experiência com tal simplicidade e candura, que muitos dos que antes haviam tido preconceito foram tocados até chorar. Sentia-se a influência do Espírito Santo em suas palavras, e via-se em seu rosto. Com santa exaltação, declarou ousadamente que havia tomado a Palavra de Deus como sua conselheira; que se lhes haviam dissipado as dúvidas e confirmado a fé. Com fervor convidou seus irmãos os ministros, os membros da igreja, os pecadores e incrédulos para examinarem a Bíblia por si mesmos, e insistiu que não deixassem ninguém afastá-los do propósito de descobrir a verdade.

Ao terminar ele de falar, os que desejavam as orações do povo de Deus foram convidados a se levantar. Centenas atenderam ao convite. O Espírito Santo repousava sobre a assembléia. O Céu e a erra pareciam aproximar-se. A reunião durou até avançada hora da noite. O poder do Senhor foi sentido sobre jovens, adultos e idosos.

O irmão Brown não se desligou então nem mais tarde da Igreja Cristã, mas seus seguidores lhe tiveram sempre grande respeito.

Feliz Expectativa

Ao voltarmos para casa por vários caminhos, ouvia-se de uma direção uma voz louvando a Deus, e, como que em resposta, vozes de um, outro e de mais outro lado bradavam: "Glória a Deus, o Senhor reina!" Os homens recolhiam-se a casa com louvores nos lábios, e aquele som alegre repercutia pelo ar silencioso da noite. Ninguém que haja assistido a essas reuniões poderá jamais esquecer aquelas cenas do mais profundo interesse.

Aqueles que amam sinceramente a Jesus podem apreciar os sentimentos dos que aguardavam com o mais intenso anelo a vinda de seu Salvador. Aproximava-se o dia em que era esperado. Pouco faltava para que chegasse o momento em que esperávamos encontrá-Lo. Aproximávamo-nos dessa hora com tranquila solenidade. Os verdadeiros crentes permaneciam em doce comunhão com Deus - um prelúdio da paz que esperavam desfrutar no brilhante além. Ninguém que haja experimentado essa esperança e confiança, poderá jamais esquecer essas preciosas horas de expectativa.

As ocupações mundanas na maior parte foram abandonadas durante algumas semanas. Cuidadosamente examinávamos todo pensamento e emoções do coração, como se estivéssemos em nosso leito de morte, e devêssemos em poucas horas fechar para sempre os olhos para as cenas terrestres. Não se fizeram para aquele grande acontecimento "roupa para ascensão". Sentíamos a necessidade de uma prova íntima de que estávamos preparados para encontrar a Cristo, e de que os nossos vestidos brancos eram a pureza de alma, o caráter purificado do pecado pelo sangue expiatório de nosso Salvador.

Dias de Perplexidade

O tempo de expectação, porém, passou. Esta foi a primeira prova severa a que foram submetidos os que criam e esperavam que Jesus viesse nas nuvens do céu. Grande foi o desapontamento do povo expectante de Deus. Os escarnecedores estavam triunfantes, e ganharam para as suas fileiras os fracos e covardes. Alguns que aparentavam possuir fé verdadeira pareciam ter sido influenciados apenas pelo medo; e, com a passagem do tempo, recobravam ânimo, e audazmente se uniam aos escarnecedores, declarando que nunca haviam sido iludidos de modo a crer realmente na doutrina de Miller, que era um fanático doido. Outros, mais acomodados ou vacilantes, abandonaram a causa sem dizer palavra.

Estávamos perplexos e desapontados, contudo não renunciávamos à nossa fé. Muitos ainda se apegavam à esperança de que Jesus não demoraria muito Sua vinda; a palavra do Senhor era certa e não podia falhar. Sentíamos que havíamos cumprido nosso dever, que tínhamos vivido de acordo com nossa preciosa fé; fôramos desapontados, mas não desanimados. Os sinais dos tempos denotavam que o fim de todas as coisas estava às portas; precisávamos vigiar e conservar-nos de prontidão para a vinda do Mestre em qualquer tempo, aguardando, confiantes e esperançosos, sem deixar de reunir-nos para nos instruir, animar e consolar, a fim de que nossa luz pudesse resplandecer nas trevas do mundo.

Um Erro na Contagem

Nosso cálculo do tempo profético era tão simples e claro que mesmo as crianças o poderiam compreender. A contar da data do decreto do rei da Pérsia como se encontra no capítulo 7 de Esdras, o qual foi baixado no ano 457 antes de Cristo, supunha-se que os 2.300 anos de Daniel 8:14 terminariam em 1843. De acordo com isso aguardávamos a vinda do Senhor no fim desse ano. Ficamos tristemente desapontados quando o ano passou completamente, e o Salvador não veio.

Não se percebeu a princípio que, se o decreto não tivesse sido baixado no princípio do ano 457 a.C., os 2.300 anos não se completariam no fim de 1843. Verificou-se, porém, que o decreto fora emitido próximo do final do ano 457 a.C., e, portanto, o período profético deveria atingir o outono do ano 1844. Por conseguinte, a visão do tempo não tardara, posto que houvesse parecido assim ser. Aprendemos a confiar na linguagem do profeta: "A visão é ainda para o tempo determinado, e até o fim falará, e não mentirá: se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará." Hab. 2:3.

Deus experimentou e provou o Seu povo com a passagem do tempo em 1843. O erro cometido na contagem dos períodos proféticos não foi logo descoberto, mesmo por homens instruídos que se opunham às opiniões dos que esperavam a vinda de Cristo. Os doutos declaravam que o Sr. Miller estava certo em seu cálculo relativo ao tempo, conquanto discordassem dele no tocante ao acontecimento que viria coroar aquele período. Todavia eles, bem como o povo expectante de Deus, estavam em erro comum relativamente ao tempo.

Aqueles que ficaram desapontados não foram por muito tempo deixados em trevas; pois, pesquisando os períodos proféticos com oração fervorosa, foi descoberto o erro, assim como delinear do lápis profético através do tempo de espera. Na alegre expectativa da vinda de Cristo, a demora aparente da visão não fora tomada em consideração, por isso ocorre uma triste e inesperada surpresa. Contudo, essa mesma prova foi necessária para alentar e fortalecer na verdade os crentes sinceros.

Esperanças Renovadas

Nossas esperanças centralizaram-se então na vinda do Senhor em 1844. Esse era também o tempo para a mensagem do segundo anjo, que, voando pelo meio do céu, clamou: "Caiu, caiu Babilônia, aquela grande cidade." Apoc. 14:8. Aquela mensagem foi pela primeira vez proclamada pelos servos de Deus no verão de 1844 e, como resultado dela, muitos abandonaram as igrejas caídas. Em conexão com essa mensagem deu-se o clamor da meia-noite. "Aí vem o esposo, saí-Lhe ao encontro." Mat. 25:6. Em toda parte do país, raiou a luz no tocante a essa mensagem e o clamor despertou a milhares. Foi de cidade a cidade, de aldeia a aldeia, às mais afastadas regiões do país. Atingiu os cultos e talentosos, bem como os obscuros e humildes.
Esse foi o ano mais feliz de minha vida. Meu coração transbordava de alegre expectativa; mas sentia grande dó e ansiedade pelos que se achavam desanimados e não tinham esperança em Jesus. Unimo-nos, como um só povo, em fervorosa oração para alcançar uma verdadeira experiência e inequívoca prova de nossa aceitação da parte de Deus.

Uma Prova de Fé

Necessitávamos de grande paciência, pois os escarnecedores eram muitos. Éramos frequentemente abordados com irônicas referências ao nosso desapontamento anterior. As igrejas ortodoxas usaram de todos os meios para impedir que se propagasse a crença na próxima vinda de Cristo. Nas suas reuniões não se dava liberdade àqueles que costumavam mencionar sua esperança na próxima vinda de Jesus. Os que professavam amar a Jesus escarnecedoramente rejeitavam as boas novas de que Aquele que diziam ser o seu melhor Amigo, devesse logo visitá-los. Estavam agitados e enraivecidos contra os que proclamavam as novas de Sua vinda e se regozijavam de muito breve contemplá-Lo em glória.

Um Período de Preparo

Cada momento me parecia ser da máxima importância. Eu pressentia que estávamos trabalhando para a eternidade, e que os descuidosos e indiferentes se achavam no maior perigo. Nada me obscurecia a fé, e eu me apegava às preciosas promessas de Jesus. Ele dissera a Seus discípulos: "Pedi, e recebereis." João 16:24. Eu cria firmemente que todo pedido de acordo com a vontade de Deus certamente me seria concedido. Prostrei-me humildemente aos pés de Jesus, com o coração em harmonia com a Sua vontade.
Muitas vezes visitava famílias e empenhava-me em fervorosa oração com aqueles que estavam oprimidos por temores e desânimo. Minha fé era tão forte que nunca duvidava, um momento que fosse, de que Deus atendesse as minhas orações. Sem uma única exceção, fruíamos a bênção e paz de Jesus em resposta às nossas humildes petições, e luz e alegria animavam o coração dos que antes desesperavam.

Com diligente exame de consciência e humildes confissões, chegamos devotamente ao tempo da expectação. Todas as manhãs sentíamos que nosso primeiro trabalho era assegurar-nos de que nossa vida estava reta diante de Deus. Compreendíamos que se não estivéssemos progredindo em santidade, estaríamos certamente retrocedendo. Aumentava o nosso interesse de uns para com os outros; orávamos muito, conjuntamente, e uns pelos outros. Congregávamo-nos nos pomares e bosques para ter comunhão com Deus e dirigir-Lhe nossas petições, sentindo nós mais completamente Sua presença quando rodeados por Suas obras naturais. As alegrias da salvação nos eram mais necessárias do que a comida e a bebida. Se nuvens nos obscureciam o espírito, não ousávamos repousar ou dormir antes que fossem varridas pela certeza de que éramos aceitos pelo Senhor.

A Passagem do Tempo

O povo expectante de Deus aproximava-se da hora em que estremecidamente esperava suas alegrias se completassem na vinda do Salvador. Mas de novo passou o tempo, sem qualquer demonstração do advento de Jesus. Foi amargo o desapontamento que atingiu o pequeno rebanho, cuja fé tinha sido tão forte, e tão elevada a esperança. Estávamos, porém, surpresos de que nos sentíssemos tão livres no Senhor, e tão fortemente fôssemos amparados por Sua força e graça.

A experiência do ano anterior, contudo, repetira-se em maior proporção. Grande número de pessoas renunciara a sua fé. Alguns que tinham sido muito confiantes, ficaram tão profundamente feridos em seu orgulho, que queriam como que fugir do mundo. Como Jonas, queixavam-se de Deus, e preferiam a morte à vida. Os que haviam baseado sua fé na evidência de outrem, e não na Palavra de Deus, estavam de novo prontos para mudar de opinião.

Ficamos desapontados, mas não desanimados. Resolvemos refrear-nos da murmuração naquela severa prova pela qual o Senhor nos estava purificando das escórias e refinando-nos como o ouro no fogo; resolvemos submeter-nos pacientemente ao processo de purificação que Deus julgava necessário para nós, e aguardar com paciente esperança que o Salvador remisse Seus filhos provados e fiéis.

Estávamos firmes na crença de que a pregação do tempo definido era de Deus. Foi isso que levou os homens a examinar a Bíblia diligentemente, descobrindo verdades que antes não haviam percebido. Jonas foi mandado por Deus para proclamar nas ruas de Nínive que dentro de quarenta dias a cidade seria subvertida; Deus, porém, aceitou a humilhação dos ninivitas, e lhes prolongou o período de graça. Contudo, a mensagem que Jonas levara, foi enviada por Deus. Nínive foi provada de acordo com Sua vontade. O mundo olhava para a nossa esperança como uma ilusão, e nosso desapontamento como o seu consequente malogro; entretanto, ainda que estivéssemos errados quanto ao que deveria ocorrer naquele período, não havia em realidade falta de cumprimento na visão que parecia tardar.

Aqueles que tinham esperado a vinda do Senhor não estavam sem consolação. Haviam obtido valioso conhecimento da pesquisa da Palavra. O plano da salvação estava mais claro em sua compreensão. Cada dia descobriam novas belezas nas páginas sagradas, e uma maravilhosa harmonia através delas todas, um texto explicando outro e não havendo nenhuma palavra empregada em vão.

Nosso desapontamento não foi tão grande como o dos discípulos. Quando o Filho do homem cavalgava triunfantemente para Jerusalém, esperavam que Ele fosse coroado Rei. O povo se ajuntava de toda a região em redor, e exclamava: "Hosana ao filho de Davi!" Mat. 21:9. E quando os sacerdotes e anciãos pediram a Jesus que silenciasse a multidão, Ele declarou que, se eles se calassem, as mesmas pedras clamariam, pois a profecia deveria cumprir-se. Não obstante, dentro de poucos dias esses mesmos discípulos viram seu amado Mestre, que acreditavam iria reinar no trono de Davi, estendido na torturante cruz, por sobre os fariseus zombadores e sarcásticos. Suas elevadas esperanças foram frustradas, e as trevas da morte os cercaram. Todavia Cristo estava sendo fiel às Suas promessas. Doce foi a consolação que proporcionou a Seu povo, e rica a recompensa dos verdadeiros e fiéis. O Sr. Miller e os que com ele se achavam supuseram que a purificação do santuário, de que fala Daniel 8:14, significava a purificação da Terra pelo fogo antes de se tornar a habitação dos santos. Isso deveria ocorrer por ocasião do segundo advento de Cristo; portanto, esperávamos aquele acontecimento no fim dos 2.300 dias-anos. Depois de nosso desapontamento, porém, as Escrituras foram cuidadosamente pesquisadas, com oração e fervor; e após um período de indecisão derramou-se luz em nossas trevas; a dúvida e a incerteza foram varridas.

Em vez de a profecia de Daniel 8:14 referir-se à purificação da Terra, era então claro que se referia ao trabalho de nosso Sumo Sacerdote a encerrar-se nos Céus, à conclusão da obra expiatória, e ao preparo do povo para suportar o dia de Sua vinda.

Fonte: Ellen G. White. Vida e Ensinos. p. 45-56

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Como Ellen G. White tornou-se adventista.



A família de meu pai, de quando em quando, frequentava a igreja metodista, e também as reuniões para estudos, realizadas em casas particulares.

Experiências na Reunião de Estudos

Uma noite, meu irmão Roberto e eu fomos à reunião de estudos. O pastor, que a devia presidir, estava presente. Ao chegar a vez de meu irmão dar testemunho, ele falou com grande humildade, se bem que com clareza, acerca da necessidade de um completo preparo para encontrar o Salvador, quando vier nas nuvens do céu com poder e grande glória. Enquanto meu irmão falava, uma luz celeste lhe abrasou o rosto, usualmente pálido. Pareceu ser levado em espírito acima do ambiente em que se achava, e falou como se estivesse na presença de Jesus.

Quando fui convidada para falar, levantei-me, com o espírito livre, com o coração cheio de amor e paz. Contei a história do meu grande sofrimento sob a convicção do pecado, e como finalmente recebera a bênção que havia tanto procurava - completa conformidade com a vontade de Deus - e exprimi minha alegria nas boas-novas da próxima vinda de meu Redentor para levar Seus filhos consigo.

Quando acabei de falar, o pastor dirigente perguntou-me se não seria mais agradável viver uma longa vida de utilidade, fazendo bem aos outros, do que vir Jesus imediatamente e destruir os pobres pecadores. Repliquei que anelava a vinda de Jesus. Então o pecado teria fim e desfrutaríamos para sempre a santificação, sem que houvesse o diabo para nos tentar e transviar.

Depois de encerrada a reunião, percebi que era tratada com visível frieza por aqueles que anteriormente tinham sido benévolos e amáveis comigo. Meu irmão e eu voltamos para casa, sentindo-nos tristes por ser tão mal compreendidos pelos crentes, e por o assunto da próxima volta de Jesus despertar-lhes tão severa oposição.

A Bem-Aventurada Esperança

Em caminho para casa, conversamos seriamente a respeito das evidências de nossa nova fé e esperança. "Ellen", disse Roberto, "estaremos enganados? É esta esperança do próximo aparecimento de Cristo sobre a Terra uma heresia, para que pastores e ensinadores religiosos a ela se oponham tão veementemente? Eles dizem que Jesus não virá senão daqui a milhares e milhares de anos. Se tão-somente se aproximam da verdade, então o mundo não poderá acabar em nosso tempo."

Eu não ousava favorecer a incredulidade um momento que fosse, e repliquei prontamente: "Não tenho dúvida de que a doutrina pregada pelo Sr. Miller é a verdade. Que poder lhe acompanha as palavras! Que levam convicção ao coração do pecador!"

Conversamos sobre o assunto com toda a lealdade enquanto caminhávamos, e concluímos ser nosso dever e privilégio esperar a vinda de nosso Salvador, e que mais seguro seria preparar-nos para o Seu aparecimento e estarmos prontos para encontrá-Lo com alegria. Se Ele viesse, o que não seria daqueles que então diziam: "O meu Senhor tarde virá", e que não tinham desejo de vê-Lo? Admirava-nos como havia ministros que ousassem acalmar os temores de pecadores e crentes relapsos, dizendo: "Paz, paz!" enquanto a mensagem do aviso estava sendo proclamada em todo o país. A ocasião parecia-nos muito solene; compreendíamos não ter tempo a perder.

"Cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto" - observou Roberto. "O que tem feito por nós esta crença? Convenceu-nos de que não estávamos preparados para a vinda do Senhor; de que devemos tornar-nos puros de coração, do contrário não poderemos encontrar em paz o nosso Salvador. Despertou-nos para procurar nova força e graça divinas.

"O que fez ela por ti, Ellen? Serias o que agora és, se não tivesses ouvido a doutrina da próxima vinda de Cristo? Que esperança te inspirou ao coração? Que paz, alegria e amor te proporcionou? Para mim, fez tudo. Amo a Jesus e a todos os cristãos. Aprecio a reunião de oração. Tenho grande alegria na leitura da Bíblia e na oração."

Nós ambos nos sentimos fortalecidos com essa conversa, e resolvemos não nos afastar de nossas honestas convicções da verdade, e da bem-aventurada esperança da próxima vinda de Cristo nas nuvens do céu. Sentíamo-nos gratos por poder discernir a preciosa luz e alegrar-nos na expectativa da vinda do Senhor.

O Último Testemunho na Reunião de Estudos

Não muito tempo depois disso, de novo assistimos à reunião de estudos. Precisávamos de oportunidade para falar do precioso amor de Deus que nos animava a alma. Eu, especialmente, desejava falar da bondade e misericórdia do Senhor para comigo. Operava-se em mim uma tão grande mudança que parecia ser meu dever aproveitar toda oportunidade para testificar do amor de meu Salvador.

Ao chegar a minha vez de falar, relatei as evidências que provavam que eu fruía o amor de Jesus e olhava para a frente com alegre expectação de logo encontrar o meu Redentor. A crença de que a vinda de Cristo estava próxima me havia estimulado a alma a buscar mais fervorosamente a santificação do Espírito de Deus.

Neste ponto, o dirigente da classe interrompeu-me, dizendo: "Recebeste a santificação pelo Metodismo, pelo Metodismo, irmã, não por uma teoria errônea."

Fui compelida a confessar a verdade de que não era pelo Metodismo que meu coração havia recebido nova bênção, mas pelas verdades estimuladoras relativas ao aparecimento pessoal de Jesus. Por meio delas eu encontrara paz, alegria e perfeitoamor. Assim terminou o meu testemunho, o último que eu daria na reunião de estudos com meus irmãos metodistas.

Roberto então falou com mansidão, conforme era o seu modo, mas de maneira clara e tocante que alguns choraram e ficaram muito comovidos; outros, porém, tossiam em sinal de desagrado e pareciam muito a contragosto.

Depois de sairmos da classe, falamos de novo sobre a nossa fé, e maravilhamo-nos de que nossos irmãos e irmãs cristãs, de tal maneira não pudessem suportar que se lhes falasse uma palavra referente à vinda do nosso Salvador. Convencemo-nos de que não mais devíamos freqüentar a reunião da classe. A esperança do glorioso aparecimento de Cristo nos enchia a alma, e disso falaríamos quando nos levantássemos para dar testemunho. Era evidente que não poderíamos ter liberdade na reunião de estudos, pois nosso testemunho provocava escárnio e sarcasmo que ouvimos, finda a reunião, de irmãos e irmãs a quem tínhamos respeitado e estimado.

Propagando a Mensagem do Advento

Os adventistas realizavam por esse tempo reuniões no Salão Beethoven. Meu pai, com sua família, a elas assistiam com boa regularidade. Supunha-se que o segundo advento deveria ocorrer no ano 1843. O tempo para que toda alma fosse salva parecia tão breve que resolvi fazer tudo que estava ao meu alcance para conduzir pecadores à luz da verdade.

Eu tinha duas irmãs em casa: Sara, que era vários anos mais velha do que eu, e minha irmã gêmea Elizabeth. Trocamos idéias e decidimos ganhar o dinheiro que pudéssemos para empregar na compra de livros e folhetos para distribuição gratuita. Isso era o melhor que poderíamos fazer, e alegremente fizemos esse pouco.

Nosso pai era chapeleiro, e a tarefa que me tocava era fazer as copas dos chapéus, sendo essa a parte mais fácil do trabalho. Também fazia meias a vinte e cinco centavos de dólar o par. Meu coração estava tão enfraquecido que, para fazer esse trabalho, eu era obrigada a recostar-me na cama; entretanto, dia após dia ali me assentava, feliz por poderem meus dedos trêmulos fazer algo para trazer uma pequenina contribuição à causa que eu amava tão encarecidamente. Vinte e cinco centavos de dólar por dia era tudo que eu poderia ganhar. Quão cuidadosamente punha de lado as preciosas moedinhas de prata que assim ganhava e deveriam ser gastas em impressos destinados a esclarecer e despertar os que estavam em trevas!

Não tinha tentação de gastar meus lucros para minha própria satisfação. Meu vestuário era simples; nada era gasto em ornamentos desnecessários, pois a ostentação vã me parecia pecaminosa. Assim é que sempre tinha em depósito um pequeno fundo com que comprar livros convenientes. Estes eram colocados nas mãos de pessoas experientes a fim de os espalharem.

Cada folha destes impressos parecia preciosa aos meus olhos; pois era um mensageiro de luz ao mundo, ordenando às pessoas que se preparassem para o grande evento que estava às portas. A salvação das almas era a minha preocupação de espírito, e confrangia-se-me o coração por aqueles que se lisonjeavam de estarem vivendo em segurança, enquanto a mensagem de advertência estava sendo proclamada ao mundo.

A Questão da Imortalidade

Um dia ouvi uma conversa entre minha mãe e minha irmã, com referência a um discurso que havia pouco tinham ouvido, a propósito de que a alma não tem imortalidade inerente. Alguns dos textos usados pelo ministro, como prova, foram citados. Entre eles lembro-me de que estes me impressionaram muito fortemente: "A alma que pecar, essa morrerá." Ezeq. 18:4. "Os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma." Ecl. 9:5. "A qual a seu tempo mostrará o bem-aventurado, e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores; Aquele que tem, Ele só, a imortalidade." I Tim. 6:15 e 16. "A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, e honra, e incorrupção." Rom. 2:7.

"Por que", disse minha mãe depois de citar as passagens antecedentes, "deveriam eles procurar aquilo que já têm?"

Escutei estas novas idéias com interesse intenso e solícito. Quando fiquei sozinha com minha mãe, perguntei-lhe se realmente cria que a alma não era imortal. Sua resposta foi que ela receava tivéssemos estado em erro no tocante àquele assunto, assim como a alguns outros.

"Mas, mamãe", disse eu, "a senhora acredita realmente que a alma dorme na sepultura até à ressurreição? Acha que, ao morrer, o cristão não vai imediatamente ao Céu, nem o pecador ao inferno?"

Ela respondeu: "A Bíblia não nos dá prova de que haja um inferno a arder eternamente. Se houvesse esse lugar, deveria ser mencionado no Volume Sagrado."

"Oh! mamãe", exclamei eu com espanto, "esta é uma estranha maneira de a senhora falar! Se a senhora crê nessa estranha teoria, que ninguém o saiba; pois receio que os pecadores não se sintam em segurança com essa crença, e nunca desejem buscar ao Senhor."

"Se esta é uma sólida verdade bíblica", replicou ela, "em vez de impedir a salvação dos pecadores, será o meio de os ganhar para Cristo. Se o amor de Deus não induzir o rebelde a se entregar, os terrores de um inferno eterno não o levarão ao arrependimento. Além disso, não parece ser uma maneira justa de ganhar almas para Jesus, o apelo para um dos mais baixos atributos do espírito - o medo abjeto. O amor de Jesus atrai; ele subjugará o mais duro coração."

Somente alguns meses depois desta conversa é que ouvi algo mais acerca dessa doutrina; mas durante esse tempo meditei muito sobre esse assunto. Quando ouvi uma pregação em que era exposto, cri que era a verdade. Desde a ocasião em que aquela luz relativa ao sono dos mortos raiou em meu espírito, dissipou-se para mim o mistério que encobria a ressurreição, e este grande fato assumiu uma nova e sublime importância. Meu espírito muitas vezes se conturbara nos esforços para reconciliar a imediata recompensa ou castigo dos mortos com, o indubitável fato de uma ressurreição e juízo futuros. Se por ocasião da morte a alma entrava na felicidade ou desdita eternas, onde a necessidade de ressurreição para os míseros corpos que se reduzem a pó?

No entanto essa nova e bela fé ensinou-me a razão por que os escritores inspirados tanto se ocuparam da ressurreição do corpo; era porque o ser todo estava a dormir no túmulo. Agora podia ver claramente o engano de nossa opinião sobre esta questão.

A Visita do Pastor

Nossa família toda estava profundamente interessada na doutrina da próxima vinda do Senhor. Meu pai fora uma das colunas da igreja metodista. Atuara como exortador e como dirigente das reuniões nas casas situadas a certa distância da cidade. Contudo, o ministro metodista fez-nos uma visita especial, e aproveitou a ocasião para nos informar de que a nossa fé e o metodismo não poderiam andar de mãos dadas. Ele não indagava as razões por que críamos, tal como fazíamos, nem recorria à Bíblia a fim de nos convencer de erro; declarava, porém, que adotáramos uma nova e estranha crença que a igreja metodista não poderia aprovar.

Meu pai retorquiu que ele deveria estar enganado ao chamar nova e estranha aquela doutrina; que o próprio Cristo, em Seus ensinos aos discípulos, pregara Seu segundo advento. Dissera Ele: "Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, Eu vo-lo teria dito: vou preparar-vos lugar. E, se Eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo para que onde Eu estiver estejais vós também." João 14:2 e 3. "E estando com os olhos fitos no céu, enquanto Ele subia, eis que junto deles se puseram dois varões vestidos de branco, os quais lhe disseram: Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no Céu, há de vir assim como para o Céu O vistes ir." Atos 1:10 e 11.

"E", disse meu pai, entusiasmando-se com o assunto, "o inspirado Paulo escreveu uma carta para animar os crentes de Tessalônica, dizendo-lhes: 'A vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando Se manifestar o Senhor Jesus desde o céu, com os anjos do Seu poder; como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais por castigo padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do Seu poder, quando vier para ser glorificado nos Seus santos, e para Se fazer admirável naquele dia. ...' II Tess. 1:7-10. 'Porque o mesmo Senhor descerá do Céu com alarido e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras.' I Tess. 4:16-18.

"Esta é uma grande autoridade para nossa fé. Jesus e Seus apóstolos tratam demoradamente do acontecimento da segunda vinda, com alegria e triunfo; e os santos anjos proclamam que o Cristo, que ascendeu ao Céu, virá outra vez. Esta é a falta que cometemos - crer na palavra de Jesus e de Seus discípulos. Esta é uma doutrina muito antiga, e não tem vestígio de heresia."

O ministro não tentou citar um único texto que provasse estarmos em erro, desculpando-se, porém, com a alegação de falta de tempo. Aconselhou-nos a que silenciosamente nos retirássemos da igreja, e evitássemos a publicidade de um processo regular de exclusão. Nós sabíamos que outros de nossos irmãos estavam recebendo idêntico tratamento por causa semelhante, e não quisemos dar motivo para que entendessem que nos envergonhávamos de reconhecer a nossa fé ou éramos incapazes de baseá-la nas Escrituras; nestas condições, meus pais insistiram para que fossem cientificados das razões deste pedido.

A única resposta a isso foi a declaração evasiva de que andáramos contrariamente às normas da igreja, e o plano mais acertado seria retirar-nos voluntariamente dela para evitar um processo. [1] Replicamos que preferíamos um processo regular, e pedimos que nos informassem de que pecado éramos acusados, visto estarmos conscientes de não ter cometido falta alguma por aguardar e desejar o aparecimento do Salvador.

Obs:
1 
   Assim por nenhum outro motivo que não seu firme testemunho em relação à sua crença na volta de Cristo, a família Harmon foi separada da igreja metodista.

Fonte: Ellen G. White. Vida e Ensinos. Capítulo: “A Fé Adventista”. p. 35-44.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Início do Ministério de Ellen G. White


Fiquei de novo muito ansiosa por frequentar a escola e fazer nova tentativa de instruir-me, e entrei para um colégio de moças em Portland. Ao tentar reiniciar os estudos, porém, minha saúde rapidamente declinou, tornando-se evidente para mim que se persistisse na frequência às aulas seria à custa de minha vida. Com grande tristeza voltei para casa.

Eu achara difícil a prática da religião no colégio, cercada como estava de influências tendentes a atrair o espírito e afastá-lo de Deus. Por algum tempo, senti uma constante insatisfação própria e com meu progresso na vida cristã, e não experimentava o sentimento vívido da misericórdia e amor de Deus. Sobrevinha-me uma sensação de desânimo, o que me causava grande ansiedade de espírito.

A Mensagem do Advento em Portland

Em junho de 1842, o Sr. Miller fez a sua segunda série de conferências na igreja da Rua Casco, em Portland. Considerei grande privilégio haver assistido a essas conferências, pois eu caíra em desânimo e não me sentia preparada para encontrar-me com o Salvador. Essa segunda série criou na cidade muito mais agitação do que a primeira. Com poucas exceções, as várias denominações fecharam as portas de suas igrejas ao Sr. Miller. Muitos pregadores, nos vários púlpitos, procuravam expor os pretensos erros fanáticos do conferencista; mas multidões de ouvintes ansiosos assistiam a suas reuniões, e, por falta de lugar, muitos ficavam sem poder entrar. A assistência ficava silenciosa e atenta, contrariamente ao seu hábito.

O estilo de pregar do Sr. Miller não era floreado nem oratório. Ele apresentava fatos claros e surpreendentes que arrancavam os ouvintes de sua despreocupada indiferença.

No decorrer da pregação, confirmava suas declarações e teorias com provas das Escrituras. Acompanhava suas palavras um poder convincente que parecia dar-lhes o cunho da linguagem da verdade.

Ele era cortês e simpático. Quando todos os assentos na casa estavam ocupados, e a plataforma e lugares em redor do púlpito pareciam literalmente cheios, eu o via sair do púlpito, descer à nave e tomar pela mão algum idoso ou idosa e achar-lhes um assento, voltando então e reatando o fio do seu discurso. Era, na verdade, justamente chamado "Pai Miller", pois exercia cuidado vigilante sobre os que estavam sob o seu ministério. Era afetuoso de maneiras, dotado de disposição jovial e coração terno.

Como orador era interessante, e suas exortações tanto a cristãos professos como aos impenitentes eram apropriadas e poderosas. Algumas vezes, uma solenidade tão assinalada, a ponto de ser pungente, apoderava-se de suas reuniões. Uma intuição da crise iminente dos acontecimentos humanos impressionava o espírito da multidão ouvinte. Muitos se rendiam à convicção do Espírito de Deus. Homens de cabelos grisalhos e senhoras idosas procuravam com passos trêmulos o lugar dos que desejavam auxílio espiritual especial; aqueles que se achavam na força da idade madura, os jovens e crianças, eram profundamente abalados. Gemidos e vozes de choro e de louvor misturavam-se no período da oração.

Cri nas solenes palavras proferidas pelo servo de Deus, e doía-me o coração quando eram combatidas ou delas se zombava. Eu assistia frequentemente às reuniões e cria que Jesus devia logo vir nas nuvens do céu; o que me preocupava, porém, era estar ponta para O encontrar. Eu pensava constantemente no assunto da santidade do coração. Acima de todas as coisas anelava obter essa grande bênção, e crer que eu era inteiramente aceita por Deus.

Angústia Mental

Até então, eu nunca orara em público, e tinha apenas falado algumas tímidas palavras na reunião de oração. Tive a impressão de que deveria buscar a Deus em oração, em nossas pequenas reuniões sociais. Isso não ousava fazer, receosa de me atrapalhar e não poder exprimir meus pensamentos. Impressionou-me, porém, tão fortemente o senso do dever que, quando tentei orar em particular, parecia que estava a gracejar com Deus, porque deixara de obedecer à Sua vontade. Venceu-me o desespero, e por três longas semanas nenhum raio de luz penetrou a escuridão que me rodeava.

Intensos eram os meus sofrimentos mentais. Algumas vezes, durante a noite toda, eu não ousava cerrar os olhos, mas esperava até que minha irmã gêmea dormisse profundamente; deixava então silenciosamente o leito e ajoelhava-me no soalho, orando em silêncio, com uma agonia intensa que se não pode descrever. Os horrores de um inferno a arder eternamente estavam sempre diante de mim. Sabia que era impossível viver por muito tempo nesse estado, e não ousava morrer e enfrentar a terrível sorte do pecador. Com que inveja eu olhava àqueles que reconheciam a sua aceitação por parte de Deus! Quão preciosa parecia para minha alma agoniada a esperança cristã!

Frequentemente, eu ficava prostrada em oração quase a noite toda, gemendo e tremendo, com angústia inexprimível e desespero indescritível. "Senhor, tem misericórdia!" era meu clamor, e semelhante ao pobre publicano eu não ousava levantar os olhos para o céu, mas curvava a fronte para o soalho. Fiquei muito magra e fraca, e não obstante ocultei meu sofrimento e desespero.

O Sonho do Templo e do Cordeiro

Enquanto me achava nesse estado de desânimo, tive um sonho que me produziu profunda impressão. Sonhei que via um templo em que muitas pessoas estavam se reunindo. Apenas os que se refugiassem naquele templo seriam salvos quando terminasse o tempo; todos os que ficassem fora estariam para sempre perdidos. A multidão que se achava fora e prosseguia com seus vários interesses, caçoava e ridicularizava os que estavam entrando no templo, e dizia-lhes que esse meio de segurança era um sagaz engano e que, de fato não havia perigo algum para se evitar. Chegaram a lançar mãos de alguns para impedir-lhes a entrada.
Receosa de ser escarnecida, achei melhor esperar até que a multidão se dispersasse ou até que eu pudesse entrar sem ser observada por eles. Mas o número aumentava em vez de diminuir e, receando ficar muito atrasada, saí apressadamente de casa e atravessei a multidão. Na minha ansiedade por atingir o templo, não notava a multidão que me cercava nem com ela me ocupava.

Entrando no edifício, vi que o vasto templo era apoiado por uma imensa coluna, e a ela se achava amarrado um cordeiro todo ferido e ensanguentado. Nós que nos achávamos presentes parecíamos saber que esse cordeiro fora lacerado e ferido por nossa causa. Todos os que entravam no templo deveriam ir diante dele e confessar seus pecados. Exatamente diante do cordeiro, estavam assentos elevados, sobre os quais se sentava um grupo de pessoas que parecia muito feliz. A luz celeste parecia resplandecer lhes no rosto, e louvavam a Deus e entoavam alegres cânticos de ação de graças que se assemelhavam à música dos anjos. Esses eram os que se haviam apresentado diante do Cordeiro, confessado seus pecados, recebido perdão, e agora, em alegre expectativa, aguardavam algum acontecimento feliz.

Mesmo depois que entrei no edifício, sobreveio-me um receio e uma sensação de vergonha de que eu devesse humilhar-me diante daquele povo. Mas eu parecia ser compelida a ir para a frente, e vagarosamente caminhei em redor da coluna a fim de defrontar-me com o Cordeiro, quando uma trombeta soou, o templo foi abalado, brados de triunfo se levantaram dos santos reunidos, e um intenso brilho iluminou o edifício: então tudo passou a ser trevas intensas. Toda aquela gente feliz desaparecera com o brilho, e fui deixada só no silencioso terror da noite.

Despertei em agonia de espírito, e não pude convencer-me de que estivera a sonhar. Parecia-me que minha sorte estava fixada; e que o Espírito do Senhor me havia abandonado para não mais voltar.

O Sonho no Qual Vi a Jesus

Logo depois disso, tive outro sonho. Parecia-me estar sentada em desespero aterrador, com as mãos no rosto, refletindo assim: Se Jesus estivesse na Terra, eu iria a Ele, e me lançaria a Seus pés, e Lhe contaria todos os meus sofrimentos. Ele não Se desviaria de mim; teria misericórdia, e eu O amaria e serviria sempre.
Exatamente nesse momento se abriu a porta, e entrou uma pessoa de belo porte e semblante. Olhou para mim compassivamente e disse: "Desejas ver a Jesus? Ele aqui está, e podes vê-Lo se desejar. Toma tudo que possuis e segue-me."

Ouvi isso com indizível alegria, e contentemente ajuntei todas as minhas pequenas posses, e toda ninharia que como tesouro eu guardava, e segui a meu guia. Ele me conduziu a uma escada íngreme e aparentemente frágil. Começando a subir os degraus, aconselhou-me a conservar o olhar fixo para cima a fim de que não me atordoasse e caísse. Muitos outros que estavam fazendo essa íngreme ascensão caíam antes de galgar o cimo.

Finalmente atingimos o último degrau e paramos diante de uma porta. Ali, meu guia me informou que eu devia deixar todas as coisas que trouxera. Alegremente, eu as depus. Então, ele abriu a porta e me mandou entrar. Em um instante, achei-me diante de Jesus. Não havia dúvida quanto àquele belo semblante; aquela expressão de benevolência e majestade não poderia pertencer a nenhum outro. Quando Seu olhar pousou sobre mim, vi logo que Ele estava familiarizado com todos os acontecimentos de minha vida e todos os meus íntimos pensamentos e sentimentos.

Procurei fugir de Seu olhar, sentindo-me incapaz de suportá-lo por ser tão penetrante. Ele, porém, Se aproximou com um sorriso, e, pondo a mão sobre minha cabeça, disse: "Não temas." O som de Sua doce voz agitou-me o coração com uma felicidade que nunca experimentara antes. Eu estava alegre demais para poder proferir uma palavra, e, vencida pela emoção, caí prostrada a Seus pés. Enquanto ali jazia inerte, cenas de beleza e glória passaram diante de mim, e parecia-me ter alcançado a segurança e paz do Céu. Finalmente, recuperei as forças e levantei-me. O olhar amorável de Jesus ainda estava sobre mim, e Seu sorriso enchia a minha alma de alegria. Sua presença despertou em mim santa reverência e amor inexprimível.

Meu guia abriu então a porta, e ambos saímos. Mandou que eu tomasse de novo todas as coisas que havia deixado fora. Isso feito, entregou-me um fio verde muito bem enovelado. Ele me disse que o colocasse perto do coração e, quando quisesse ver a Jesus, o tirasse do seio e o estirasse inteiramente. Preveniu-me de que o não deixasse ficar enrolado durante muito tempo, para que não se embaraçasse e fosse difícil desemaranhar. Coloquei o fio junto ao coração e, cheia de alegria, desci a estreita escada, louvando ao Senhor, e dizendo a todos com quem falara, onde poderiam encontrar Jesus.

Este sonho deu-me esperança. O fio verde representava ao meu espírito a fé; e a beleza e simplicidade de confiar em Deus começaram a raiar na minha alma.

Amável Simpatia e Conselho

Agora, confiava todas as minhas tristezas e perplexidades a minha mãe. Ela me manifestava muita ternura e me animava, sugerindo-me que fosse aconselhar-me com o Pastor Stockman, que então pregava, em Portland, a doutrina do advento. Eu tinha grande confiança nele, pois era um dedicado servo de Cristo. Ouvindo minha história, pôs afetuosamente a mão sobre minha cabeça, dizendo com lágrimas nos olhos: "Ellen, tu és tão criança! Tua experiência é muitíssimo singular, numa idade tenra como a tua. Jesus deve estar te preparando para algum trabalho especial."

Disse-me então que, mesmo que eu fosse uma pessoa de idade madura, e me achasse assim perseguida pela dúvida e desespero, ele me diria saber existir esperança para mim, mediante o amor de Jesus. A própria agonia de espírito que eu sofrera, era uma prova evidente de que o Espírito do Senhor estava contendendo comigo. Disse que quando o pecador se torna endurecido no mal, não compreende a enormidade de sua transgressão, mas lisonjeia-se de que anda direito e sem nenhum perigo. O Espírito do Senhor deixa-o, e ele se torna descuidado e indiferente, ou despreocupadamente arrogante. Aquele bom homem falou-me acerca do amor de Deus a Seus filhos errantes; disse que em vez de Se alegrar em sua destruição, Ele almeja atraí-los a Si com fé e confiança singela. Ele se demorou a falar no grande amor de Cristo e no plano da redenção.

O Pastor Stockman falou-me da infelicidade que eu tivera, e disse que na verdade era uma aflição atroz; mas mandou-me crer que a mão de um Pai amante não fora retirada de sobre mim e, na vida futura, ao dissipar-se a névoa que ora me obscurecia o espírito, eu iria discernir a sabedoria da Providência, que me parecia tão cruel e misteriosa. Jesus disse a um de Seus discípulos: "O que Eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois." João 13:7. No grande futuro, não mais veremos obscuramente, como por meio de um espelho, mas havemos de conhecer os mistérios do divino amor.

"Podes ir livre, Ellen", disse ele; "volta a tua casa confiante em Jesus, pois Ele não retirará Seu amor de todo aquele que O busca verdadeiramente." Então orou fervorosamente por mim, e parecia-me que Deus certamente ouviria a oração de Seu santo, mesmo que minhas humildes petições não fossem atendidas. Enquanto eu escutava os sábios e ternos conselhos desse mestre em Israel, o meu espírito desanuviou-se e afastou-se a abominável escravidão da dúvida e receio. Saí de sua presença confortada e animada.

Minha Primeira Oração Pública

Voltei para casa e de novo me pus perante o Senhor, prometendo fazer tudo que Ele pudesse exigir de mim, se tão somente o sorriso de Jesus me animasse o coração. Foi-me apresentado o mesmo dever que antes me perturbara o espírito - tomar a minha cruz entre o povo de Deus congregado. A oportunidade não tardou; naquela noite, em casa de meu tio, havia uma reunião de oração à qual assisti.

Ao ajoelharem-se os outros para orar, prostrei-me com eles, trêmula. E, depois de haverem orado algumas pessoas, alcei a voz em oração, antes que disso me apercebesse. Naquele instante, as promessas de Deus pareceram-me semelhantes a tantas pedras preciosas que deveriam ser recebidas apenas pelos que as pedissem. Enquanto orava, o peso e agonia de alma que havia tanto tempo eu suportava, deixaram-me, e a bênção do Senhor desceu sobre mim, semelhante ao orvalho brando. Louvei a Deus de todo o meu coração. Tudo parecia excluído de mim, exceto Jesus e Sua glória, e perdi consciência do que se passava em redor.

O Espírito de Deus pousou sobre mim com tal poder que não pude ir para casa aquela noite. Quando voltei a mim, estava sendo tratada em casa de meu tio, onde nos tínhamos congregado para a reunião de oração. Nem meu tio nem minha tia fruíam a religião, posto que ele já houvesse feito profissão de fé, havendo esmorecido depois. Contaram-me que, enquanto o poder de Deus se apossava de mim de maneira tão peculiar, ele ficara grandemente perturbado e andara pela sala, sofrendo incomodidade e angústia de espírito.

Quando a princípio caí, alguns dos presentes ficaram grandemente alarmados e estavam para correr em busca de médico, julgando que alguma indisposição súbita e perigosa me houvesse acometido; mas minha mãe lhes disse que me deixassem só, pois era evidente para ela e para os outros cristãos experientes, que fora o maravilhoso poder de Deus que me prostrara. Quando voltei para casa, no dia seguinte, grande mudança ocorrera em meu espírito. Dificilmente parecia ser eu a mesma pessoa que deixara a casa de meu pai na noite anterior. Esta passagem estava continuamente em meu pensamento: "O Senhor é meu pastor: nada me faltará." Sal. 23:1. Meu coração transbordava de felicidade, enquanto eu suavemente repetia essas palavras.

Uma Perspectiva do Amor do Pai

A fé tomou posse de meu coração. Experimentei um inexprimível amor a Deus, e tinha o testemunho do Seu Espírito de que meus pecados estavam perdoados. Minhas opiniões acerca do Pai estavam mudadas. Considerava-O agora um Pai bondoso e terno, ao invés de tirano severo que forçasse os homens a uma obediência cega. Meu coração deixava-se levar a Ele em amor profundo e fervoroso. A obediência à Sua vontade me parecia um prazer; era para mim uma alegria estar ao Seu serviço. Nenhuma sombra nublava a luz que me revelava a perfeita vontade de Deus. Experimentei a segurança de um Salvador que em mim habitava, e compreendi a verdade do que Cristo dissera: "Quem Me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida." João 8:12.

Minha paz e felicidade estavam em tão assinalado contraste com minha tristeza e angústia anteriores que parecia como se eu houvesse sido libertada do inferno e transportada ao Céu. Podia até louvar a Deus pela desgraça que fora a provação de minha vida, pois se tornara o meio de fixar meus pensamentos na eternidade. De natureza orgulhosa e ambiciosa, eu poderia não ter-me inclinado a entregar o coração a Jesus, se não fosse a cruel aflição que me separara de vez das glórias e vaidades do mundo.

Durante seis meses, nenhuma sombra me nublou o espírito, tampouco negligenciei um dever sequer que conhecesse. Todo o meu esforço visava a fazer a vontade de Deus, e conservar Jesus e o Céu continuamente em vista. Estava surpresa e extasiada com as claras perspectivas que agora a mim se apresentavam do sacrifício expiatório e da obra de Cristo. Não mais tentei explicar minhas lucubrações de espírito; basta dizer que as coisas velhas haviam passado, e todas se tornaram novas. Não havia uma nuvem para empanar minha perfeita ventura. Eu aspirava contar a história do amor de Jesus, mas não sentia disposição para entreter conversação vulgar com qualquer pessoa. Meu coração estava tão cheio de amor a Deus e daquela "paz... que excede todo o entendimento" (Filip. 4:7) que eu me comprazia em meditar e orar.

Testemunhando

Na noite seguinte àquela em que recebi tão grande bênção, assisti à reunião adventista. Quando chegou a hora para os seguidores de Cristo falarem a favor dEle, não pude ficar em silêncio, mas levantei-me e relatei a minha experiência. Nenhum pensamento me viera à mente quanto ao que deveria dizer; mas a singela história do amor de Jesus para comigo caiu-me dos lábios com perfeita liberdade, e meu coração estava tão feliz por ter-se libertado de seu cativeiro de negro desespero, que perdi de vista o povo em redor de mim e parecia-me estar sozinha com Deus. Não encontrei dificuldade em exprimir minha paz e felicidade, a não ser nas lágrimas de gratidão que me embargavam a voz.

O Pastor Stockman estava presente. Ele me vira recentemente em profundo desespero. E como agora visse terminado o meu cativeiro, chorou em voz alta, alegrando-se comigo e louvando a Deus por essa prova de Sua terna misericórdia e amorável bondade.

Não muito tempo depois de receber esta grande bênção, assisti a uma conferência da Igreja Cristã, que o Pastor Brown dirigia. Fui convidada a relatar minha experiência, e não somente senti grande liberdade de expressão, mas também felicidade em contar minha singela história do amor de Jesus e da alegria de ser aceita por Deus. Enquanto eu falava com coração submisso e olhos lacrimosos, parecia ter a alma atraída para o Céu em ações de graças. O poder enternecedor do Senhor apossou-se do povo congregado. Muitos choravam e outros louvavam a Deus.

Os pecadores foram convidados a levantar-se para que se fizessem orações em seu favor, e muitos atenderam. Meu coração estava tão grato a Deus pela bênção que me concedera, que almejava que outros participassem dessa alegria santa. Interessei-me profundamente por aqueles que poderiam estar sofrendo sob a convicção do desagrado do Senhor e do fardo do pecado. Enquanto relatava minha experiência, pressenti que ninguém poderia resistir à evidência do amor perdoador de Deus que em mim operara uma mudança tão maravilhosa. A realidade da verdadeira conversão parecia-me tão evidente que eu desejava exercer influência nesse sentido.

Trabalho em Prol de Amigas Jovens

Providenciei reuniões com pessoas jovens, de minha amizade, algumas das quais eram consideravelmente mais velhas do que eu; e outras, em menor número, casadas. Várias delas eram frívolas e desatenciosas; minha experiência soava-lhes aos ouvidos como uma história ociosa e não davam crédito às minhas exortações. Decidi, porém, que meus esforços não cessariam sem que essas caras almas, por quem eu tinha tão grande interesse, se entregassem a Deus. Despendi várias noites em oração fervorosa por aquelas pessoas que eu buscara e reunira com o propósito de com elas trabalhar e orar.

Algumas delas se haviam reunido conosco pela curiosidade de ouvir o que eu tinha para dizer; outras me julgavam fora de mim, por eu ser tão persistente em meus esforços, especialmente quando não manifestavam interesse algum. Mas em cada uma das nossas pequenas reuniões, continuei a exortar e a orar em prol de cada uma separadamente até que todas se entregaram a Jesus, reconhecendo os méritos de Seu amor perdoador. Todas se converteram a Deus.

Noite após noite, em meus sonhos, eu parecia estar trabalhando pela salvação de almas. Em tais ocasiões, eram-me apresentados ao espírito casos especiais; estes eu procurava mais tarde, orando com as pessoas envolvidas. Com exceção de uma, todas essas pessoas se entregaram ao Senhor. Alguns dos nossos irmãos mais escrupulosos temiam que eu fosse demasiado zelosa pela conversão das almas. Mas o tempo parecia-me tão curto que eu cria devessem todos, que possuíssem a esperança de uma bem-aventurada imortalidade e aguardassem a próxima vinda de Cristo, trabalhar sem cessar por aqueles que ainda estavam em pecados e se encontravam às bordas de terrível ruína.

Conquanto fosse muito jovem, o plano da salvação era-me tão claro, e minha experiência pessoal tão assinalada que, considerando a questão, compreendi ser meu dever continuar meus esforços pela salvação de preciosas almas, orar e confessar a Cristo em toda oportunidade. Todo o meu ser foi consagrado ao serviço de meu Mestre. Tomei a determinação de, acontecesse o que acontecesse, agradar a Deus e viver como alguém que esperava o Salvador vir e recompensar os fiéis. Sentia-me semelhante a uma criancinha que se dirigisse a Deus como a seu pai, perguntando-Lhe o que queria que fizesse. Então, como me fosse explicado o meu dever, em cumpri-lo eu sentia a maior das felicidades. Provações peculiares algumas vezes me assediavam. Os mais experimentados do que eu, esforçavam-se por deter-me e diminuir o ardor de minha fé; mas, com sorrisos de Jesus a iluminar minha vida, e o amor de Deus no coração, prossegui em meu caminho com alegria.

Fonte:  Ellen G. White. Vida e Ensinos. p. 21-34